palavras do Guruji

viagens pelo mundo afora e pelo universo dentro de mim


"Você não precisa viajar a um lugar remoto para buscar a liberdade; ela habita seu corpo, seu coração, sua mente, sua Alma. A emancipação iluminada, a liberdade, a pura e imaculada felicidade estão a sua espera, mas você precisa escolher embarcar na jornada interior para descobri-las."
B.K.S. Iyengar em Luz na Vida

29 de julho de 2015

Āsana de julho: Pārśvottānāsana

Construindo uma fundação forte, estável e flexível



 Pārśvottānāsana: postura final



Pārśvottānāsana: fase côncava

Pārśva = lateral ou flanco.
Uttāna = alongamento intenso.
Em Pārśvottānāsana as laterais do peito se alongam intensamente.

Este āsana vem classificado com o grau de intensidade 6 na escala de 1 a 60 criada por BKS Iyengar no “Light on Yoga”. É um āsana elementar e faz parte do grupo das posturas em pé, que é a base de todos os demais.

Por sermos bípedes e passarmos grande parte do tempo em pé, a fundação para a maioria de nossos movimentos e ações são as pernas. Geeta Iyengar sinaliza a importância das posturas em pé e explica porque elas são as primeiras a serem apresentadas em seu livro “Yoga a Gem for Womem”: “Sem uma fundação forme, um edifício não fica de pé. Da mesma maneira, sem uma firme fundação de pernas e pés fortes, o cérebro, que é o acento da inteligência, não pode ser mantido no correto alinhamento em relação a coluna.”

No método Iyengar, as aulas para iniciantes são basicamente compostas por posturas em pé, porque elas deixam o corpo forte, estável, e ao mesmo tempo flexível, preparado para a pratica das posturas mais avançadas.


Dicas utéis de alinhamento durante a pratica pessoal


Pārśvottānāsana é uma postura desafiadora em relação ao correto alinhamento. Ao fazermos o āsana é muito comum não termos a menor ideia de como está posicionada nossa pelve. Como todas as demais posturas, existem as ações básicas, mas muitas vezes mesmo durante uma aula com seu professor “cantando as ações” você continua sem saber se a pelve está mesmo paralela. Abaixo selecionei algumas dicas úteis para o auto-ajuste.

• Na postura clássica o calcanhar do pé da frente fica em linha ao arco do pé de trás, o que dificulta o equilíbrio e a percepção da pelve e dos quadris. Para facilitar, experimente alinhar calcanhar com calcanhar ou ainda afastar os calcanhares deixando o espaço entre eles um pouco maior (só um pouco mesmo).

• Use uma das cordas da parede (gancho na altura média). “Entre no laço” e mantendo a corda esticada faça Tadāsana com corpo voltado pro meio da sala. Deixe a corda passar por suas virilhas e o nó centralizado no púbis, dê um passo com uma perna para frente e com a outra para trás entrando na postura (fase 1 com o tronco erguido). Observe se a corda e o nó continuam paralelos como estavam quando em Tadāsana. Faça os ajustes necessários na pelve com a ajuda da corda e do nó como referência.

• Ao fazer a postura no meio da sala, use as bordas do seu mat como referência para o posicionamento da bacia. Observe a distância entre seu pé da frente e a borda externa do mat, em seguida observe a distância do seu quadril (do lado da perna da frente) em relação a mesma borda do mat. 

• Faça a variação de entrar na postura a partir de Ūrdhva Hastāsana. Ao flexionar o tronco a frente com os braços paralelos entre si e estendidos, permita que o braço do lado da perna de trás lidere o movimento e se alongue um pouco mais a frente do que o outro.

Lembrem-se também que:

• Se as mãos não juntam-se em Paścima Namaskārāsana, você pode fazer Baddha Hasta nas costas (antebraços cruzados e mãos segurando cotovelos).

• Se o equilíbrio na postura completa ainda é muito desafiador, faça a postura (fase coluna côncava e final) com as pontas dos dedos das mãos no chão.

• O calcanhar do pé de trás deve manter-se fixo no chão para que seu peso fique na perna de trás. Se o calcanhar ainda não toca o chão, use um apoio como um slanting plank ou uma “pizza” e pressione fortemente o calcanhar sobre ele. Use também uma parede para apoiar o calcanhar da perna de trás.

Efeitos*


Alivia rigidez na musculatura das pernas, pelve, ombros, cotovelos, punhos, e torna a coluna elástica. Enquanto a cabeça repousa no joelho, os órgãos abdominais são massageados e tonificados. Os ombros são levados para trás, o que facilita a respiração profunda.

* tradução livre dos efeitos listados por BKS Iyengar em “Light on Yoga”. 

21 de julho de 2015

4X Yoga Sūtras de Patañjali

Quer entender o conceito de alguns termos em sânscrito que escuta durante as aulas de yoga? Tem vontade de levar sua prática para além dos limites do seu tapetinho? Se a resposta foi sim à uma ou às duas perguntas acima, é chegada a hora de se aventurar pela leitura dos Yoga Sūtras de Patañjali, obra clássica do Yoga, que alicerça todas as técnicas que você pratica.

O Yoga é considerado um dos seis sistemas filosóficos (darśanas) ortodoxos da Índia e os Sūtras do Yoga formam a obra fundamental deste sistema. Patañjali teria sido o compilador da obra em língua sânscrita, que deve ter sido escrita ou reescrita entre os séculos III e V d.C.
  
Confira a seguir quatro boas traduções dos Yoga Sūtras de Patañjali



Um bom ponto de partida para o estudo dos Yoga Sūtras é a tradução direta do sânscrito para o português lançada pela editora Mantra neste ano. “Os Yoga Sutras de Patanjali, texto clássico fundamental do sistema filosófico do Yoga” traz versão integral em sânscrito e em português. A tradução e os comentários são de Carlos Eduardo G. Barbosa, que é instrutor de língua e cultura sânscritas. O livro é curtinho e apresenta uma visão geral sobre o assunto.


Se você pretende se aprofundar no estudo da filosofia do Yoga e lê em inglês, a melhor pedida é “The Yoga Sūtras of Patañjali”, de Edwin F. Bryant, ainda não publicado no Brasil. O grande diferencial deste livro é que, além de traduzir os sūtras, o autor contextualiza a obra e acrescenta trechos dos comentários dos principais comentadores do texto original. Considerando que a obra original é muito antiga e que Patañjali escreveu usando o sistema de sūtras (encadeamento de versos superconcisos para facilitar a memorização), saber a interpretação do texto original dos principais comentadores é fundamental para o entendimento da obra. Bryant é professor de filosofia e religião Hindu nas Universidades Columbia e Harvard e consegue transcender a abordagem excessivamente técnica do yoga acadêmico, sem perder profundidade e rigor. Uma curiosidade: B.K.S. Iyengar assina o prefácio do livro. 


A Ciência do Yoga”, de I. K. Taimni é uma boa tradução dos Sūtras do Yoga disponível em português. Foi com ele que iniciei meus estudos mais profundos quando cursava a formação em Iyengar Yoga com o professor Kalidas. Quem comandava as aulas de Filosofia do Yoga era o professor Collaço Veras e foi ele quem nos apresentou o autor Taimni (1898-1978), um indiano que estudou e viveu na Inglaterra. Em sua obra, Taimni faz um estudo comparativo da Ciência moderna com a clássica e primeira compilação da disciplina do Yoga, os Yoga Sūtras de Patañjali. I.K. Taimni também é autor de outros títulos relacionados ao Yoga lançados em português como os “Shiva-Sūtras”  e “ Gayatri, o Mantra Sagrado da Índia”.


A tradução e os comentários de B.K.S. Iyengar sobre os Yoga Sūtras de Patañjali ainda não foi publicado em português. É leitura fundamental tanto para os praticantes de Iyengar Yoga interessados na filosofia do Yoga, quanto para os estudiosos dos próprios Yoga Sūtras, pois contêm a interpretação do texto original de Patañjali baseada nas vivências e experiências práticas do Iyengar com āsana, prāṇāyāma e meditação.
O livro pode ser encontrado em inglês com o título “Light on the Yoga Sūtras of Patañjali”, em espanhol como “Luz sobre los Yoga Sutras de Patanjali” (segundo o site da Livraria Cultura está esgotado no fornecedor) e em outros idiomas.