Começamos
hoje a última semana de Novembro e em nossa pratica de ioga, iniciamos a semana
de pranayama.
Em
sânscrito, prana é energia vital e ayama é criação, distribuição e manutenção.
Logo, pranayama é a ciência da respiração, que leva a criação, distribuição e
manutenção da energia vital.
B.K.S. Iyengar
em seu livro “A árvore do Ioga” faz uma analogia entre pranayama e as folhas
das árvores. Ele diz: “como as folhas que arejam a árvore e fornecem nutrição
para que seu crescimento seja saudável, também o pranayama alimenta e areja as
células, os nervos, a inteligência e a consciência do sistema humano.” Bonito,
não?
Traduzo
aqui um artigo sobre pranayama da revista Yoga Rahasya vol. 18 nº 3, 2011.
Pranayama: trampolim em direção a vida
espiritual
Quando
somos ensinados a fazer pranayama, começamos observando nossos pulmões. Dizem a
você que exale. Por que exalar primeiro? Você rastreia a origem do seu corpo
interior enquanto exala. No momento em que você exala, alcança o âmago. O âmago
é a força vital. Todos os sentidos alcançam esse núcleo.
Por
exemplo, temos um copo cheio de água. Posso ainda usá-lo? Já está cheio.
Preciso esvaziá-lo primeiro. Quando primeiro exalamos, esvaziamos tudo dentro, de
modo que a carga da mente, que detém apertado, é esvaziada. Quando você começar
a inalar, observe o formato dos pulmões.
Posso ainda usar esse copo? Já está cheio.
Preciso esvaziá-lo primeiro. Quando primeiro exalamos, esvaziamos tudo
dentro
Como os pés
devem estar estáveis nos asanas, a coluna precisa estar estável durante os
pranayamas. A coluna tem a função dos pés em uma postura sentada. A base da
coluna se torna os pés. Assim é como a discriminação (habilidade de escolher o
melhor percebendo pequenos detalhes) começa. Pranayama não é apenas sobre
inspiração e exalação se você nem sabe como se sentar. A coluna deve estar
estável.
em uma postura sentada, A coluna tem a função dos pés.
A base da coluna se torna os pés. A coluna deve estar estável em
pranayama
O segredo do pranayama:
Quando você
inspira, a inspiração começa no centro e depois move-se para os lados. Se você
observar os pulmões, vai ver que eles estão apenas metade cheios. O diafragma
normalmente se movimenta verticalmente. Em pranayama, ele se move
horizontalmente. A ciência médica ainda não sabe disso. Precisamos deixar o
diafragma como um piso plano. Se o piso é inclinado, não podemos andar. Você
consegue andar somente em um piso plano e reto. Da mesma forma, você tem que
tornar seu diafragma plano.
O diafragma normalmente se movimenta verticalmente. Em pranayama, você
deve move-lo horizontalmente
O diafragma
é fixado nas costelas flutuante. Com a inspiração, a respiração tem que
mover-se a partir da superfície interna. Temos 12 pares de costelas. Quando
você inspira, você tem que sentir se a respiração está tocando costela por
costela e ao tocá-las, se está criando espaço entre elas através dos músculos
intercostais. Quando a respiração toca esses espaços é uma inspiração completa.
Você
precisa aprender que isso é o ponto de partida do conhecimento espiritual. Esse
copo está cheio de água. Se eu esvaziar a água, ele estará vazio, mas cheio de
ar. No momento que colocarmos água, ela entra e o ar sai. Pergunte a si mesmo:
quando você inspira, o que dá espaço para
respiração entrar? O que sai quando a respiração entra?
Quando você
inala o âmago do ser sai para que a respiração entre. Isso é conhecido como
inspiração - trazer energia para dentro. A consciência (awareness) dá espaço para a energia entrar. Em linguagem
filosófica, a alma sede espaço, o ser sede espaço para a respiração entrar. Da
mesma forma que o ar sai do copo, o ser se move para a respiração entrar. No
fim da inspiração, o ser e a respiração tocam as extremidades. Quando isso acontece,
temos kumbhaka – retenção. Kumbhaka não significa apenas prender a respiração.
Kumbhaka nos faz entender a comunhão da respiração com o ser. Enquanto a
respiração está unida com o ser, tem-se o verdadeiro kumbhaka.
QUANDO
INALAMOS, O ÂMAGO DO SER SAI PARA A RESPIRAÇÃO ENTRAR
KUMBHAKA É
COMUNHÃO DA RESPIRAÇÃO COM O SELF
QUANDO
EXALAMOS, O AMAGO DO SER VAI PARA SEU ESTADO ORIGINAL
Pranayama é o trampolim para a vida espiritual.
Asana
prepara você para pranayama e pranayama te guia em como fazer o asana. Depois
de uma inspiração completa, você segura a respiração. É como o encontro entre
amante e o ser amado, que na ciência do ioga chamamos do encontro entre prakrti
e purusha. Dizemos, exale. E quando exalar, veja a beleza disso. Você solta a
respiração e ao soltar a respiração, o âmago do ser vai para seu estado
original. Você não deve olhar para a respiração saindo, mas observar como o
âmago do ser está retrocedendo para o corpo. Quando a respiração está saindo e
quando a alma alcança sua morada, você não pode exalar mais. Isso significa que
prakrti mudou-se junto com a alma perto da morada do ser. Exalação é a união da
natureza com a alma. Na inalação, o ser expandindo-se, dando espaço para a
respiração entrar é purusha. Na retenção da inalação o ser e purusha são um. Na
exalação é o oposto. A natureza entra em contato com o ser. Isso é pranayama.
Pranayama
tem três movimentos. Inalação, retenção e exalação. É muito interessante
perceber a semelhança entre pranayama e o criador, o protetor e o destruidor.
Inalação é o gerador de energia conhecido como Brahma. O protetor é Vishnu.
Você segura a respiração fazendo com que essa energia proteja totalmente o
império da alma. O trabalho de kumbhaka é proteger, por isso é conhecido como
Vishnu. O destruidor é conhecido como Maheshwara-Shiva. Se você prender a
respiração viciosa, você morre. Da mesma forma, exalamos para que o ar que não
é bom para a saúde seja jogado fora. Pranayama cobre Brahma, Vishnu e
Maheshwaha. Essa é a beleza do pranayama.
Pranayama tem três movimentos: Inalação, retenção e exalação. tem
sEMELHANÇA COM O CRIADOR (BRAHMA), O PROTETOR (VISHNU) E O DESTRUIDOR (SHIVA).
Nós
armazenamos energia depois de aprender e de fazer pranayama. Nós armazenamos
água e em seguida vamos irrigar a terra. Da mesma forma, pranayama armazena
energia e essa energia armazenada deve ser utilizada. Essa energia armazenada é
então utilizada para suprir o corpo todo.
A pratica
de asanas faz dois trabalhos. Antes de pranayama, faz os pulmões elásticos para
armazenar energia como um reservatório. E depois dos pranayamas, levam essa
energia armazenada aos vários sistemas do corpo. Assim você guia a respiração
em como mover-se nos asanas depois de aprender pranayama. É assim que asana e
pranayama trabalham complementarmente um ao outro. Em pranayama, o campo e o conteúdo
do campo andam juntos como marido e mulher andam juntos. Nesse estado, você
está em meditação e não apenas sentado quieto.
Silêncio
ativo é meditação. Prayatna saithilya
ananta samapattibhyam é o efeito de asana. Quando Patañjali usa as palavras
prayatna saithilya – quando a pratica
de esforço torna-se sem esforço você experimentará o estado de infinito. Em uma
frase o efeito é indicado como tato
dvando anabhigatah – as dualidades desaparecem.
A mente
desempenha um papel duplo. A mente é como um oficial de relações públicas em
nosso sistema. O trabalho desse oficial de relações públicas é satisfazer o
cliente e ao mesmo tempo satisfazer o proprietário. A mente tem um papel
semelhante. O que é isso? Ela tem que satisfazer as demandas dos sentidos da
percepção e curtir os prazeres do mundo e por outro lado ela quer agradar o
proprietário, o ser. De acordo com Patañjali, ela desempenha papel duplo. Ela
quer satisfazer os sentidos e ela também quer satisfazer o ser. Então a pratica
de asana faz com que os sentidos de percepção movam-se para dentro e a mente
então “dá meia volta” na pratica. Assim que “dá meia volta”, ela se esquece do
outro lado, do lado de fora. Patañjali diz que assim a dupla função da mente
desaparece e apenas uma mente única permanece. Por tornar-se uma mente única,
torna-se a mente cósmica e universal em cada indivíduo. Isso é o que o yoga nos
ensina.
Transcrição
editada de uma palestra do Guruji BKS Iyengar em Pequim, China, Junho 2011.