palavras do Guruji

viagens pelo mundo afora e pelo universo dentro de mim


"Você não precisa viajar a um lugar remoto para buscar a liberdade; ela habita seu corpo, seu coração, sua mente, sua Alma. A emancipação iluminada, a liberdade, a pura e imaculada felicidade estão a sua espera, mas você precisa escolher embarcar na jornada interior para descobri-las."
B.K.S. Iyengar em Luz na Vida

30 de abril de 2014

Sobre abhyāsa e vairāgya

Yoga é uma disciplina absolutamente prática e os seus dois pilares são, em sanscrito, abhyāsa (pratica, repetição) e vairāgya (renuncia, desprendimento, desapego). Abhyāsa e vairāgya são como as asas de um pássaro, que não consegue alçar voo sem as duas funcionando conjuntamente.

Todos nós já experimentamos o poder transformador do Yoga. E quantas vezes não o sentimos na pele, nos músculos, na respiração e na mente? Muitas, certo? Mas a verdadeira transformação, aquela que perdura, que quebra padrões, só vai acontecer quando estabelecermos uma pratica constante, repetitiva e duradoura. 
Essa pratica constante aliada ao desapego em relação aos desejos e aos resultados, que são incontáveis, levam ao Yoga. Yoga que é o fim e o meio. Yoga que é citta vṛtti nirodhaḥ (cessação das atividades de citta — consciência composta de mente, intelecto e ego. YS I.2) e o caminho que leva ao contato com o verdadeiro Ser. 

Estatua de Śrī Patañjali, imagem da internet.

Śrī Patañjali em seu “Yoga Sūtra-s”* define:


I.12 abhyāsa vairāgyābhyāṁ tannirodhaḥ

अभ्यासवैराग्याभ्यां तन्निरोधः ।१२।
Pratica constante e desapego são os meios para cessar os movimentos (flutuações ou atividades) da consciência (citta).


I.13 tatra sthitau yatnaḥ abhyāsaḥ

तत्र स्थितौ यत्नोऽभ्यासः ।१३।
Pratica (abhyāsaḥ) é o esforço constante de cessar esses movimentos.


I.14 sa tu dīrghakāla nairantarya satkāra āsevitaḥ dṛḍhabhūmiḥ

स तु दीर्घकालनैरन्तर्यसकारासेवितो दृढभूमिः ।१४।
Pratica longa, ininterrupta e alerta é a fundação firme para restringir os movimentos. 


I.15 dṛṣṭa ānuśravika viṣaya vitṛṣṇasya vaśīkārasaṁjñā vairāgyam

दृ़ष्टानुश्र्रविकविषयवितृष्णस्य वशीकारसंज्ञा वैराग्यां ।१५।
Renuncia (vairāgyam) é a pratica do desapego dos desejos.


I.16 tatparaṁ puruṣakhyāteḥ guṇavaitṛṣṇyam

तत्परं पुरुषख्यातेर्गुणवैतृष्ण्यम् ।१६।

A renuncia suprema é quando transcende-se as qualidades da natureza (guṇa-s) e percebe-se a alma.

*fonte: "Light on Yoga Sūtras of Patañjali" (Luz Sobre os Yoga Sutras de Patañjali), de BKS Iyengar.


Abhyāsaḥ e vairāgya no dia a dia

Tempo é um importante obstáculo que muitos de nós, praticantes ou interessados em iniciar a pratica, nos deparamos quando pensamos em estabelecer Abhyāsaḥ. Principalmente vivendo rodeados de tantas opções e outras incontáveis distrações.

Depois de já ter experimentado alguns métodos de yoga e encontrado um professor qualificado com o qual nos identificamos, o próximo passo é organizar o tempo. 

Tenho observado na Shala Rosa Iyengar Yoga que a escolha pelos planos de aulas mais longos ajuda a manter a pratica prolongada e que definir dias fixos da semana para as praticas guiadas facilita a organização da agenda. 

Em relação a pratica pessoal em casa, o ideal é ter um cantinho reservado para isso, com espaço suficiente para que você abra seu mat e guarde os acessórios que necessite. Vale a mesma dica de definir horários fixos para a pratica. Isso ajuda a organizar a agenda reservando um tempo, curto que seja, para a sua pratica pessoal.

Nosso tempo NUNCA será suficiente, por isso o importante é dar prioridade à constância da pratica e organizar bem nossos compromissos. A disciplina é libertadora e é a única maneira de tomarmos as rédeas de nossas vidas. 

Apesar de abhyāsa e vairāgya andarem juntos, como irmãos siameses, o primeiro passo é estabelecer a pratica constante e regular. Com ela estabelecida, começaremos a desenvolver o desapego e assim formaremos as bases sólidas de nossa jornada do Yoga.

Para mais sobre os diferentes tipos de vairāgya e sobre como a pratica nos conduz a eles, ler post “Yoga e o fim do apego” de 15 de Junho de 2013, onde traduzo livremente um trecho do livro “Mobility in Stability” (Mobilidade na Estabilidade) de Geeta S. Iyengar.