palavras do Guruji

viagens pelo mundo afora e pelo universo dentro de mim


"Você não precisa viajar a um lugar remoto para buscar a liberdade; ela habita seu corpo, seu coração, sua mente, sua Alma. A emancipação iluminada, a liberdade, a pura e imaculada felicidade estão a sua espera, mas você precisa escolher embarcar na jornada interior para descobri-las."
B.K.S. Iyengar em Luz na Vida

26 de dezembro de 2009

Está muito suja!

Nossa primeira parada é Délhi, ponto de partida rumo ao Norte da Índia na 2ª parte da viagem. Chegamos ontem quase à meia noite e aproveitamos o dia para descansar das últimas 24hs passadas com o corpo apertado em poltronas de aviões ou de aeroportos.
Também demos uma volta a pé em Connaught Circus, área central da capital indiana cheia de lojas, restaurantes e um bazar de pechinchas literalmente undergroud (embaixo da praça perto do metro).
É sábado e o gramado, perto das escadas que dão acesso ao bazar, estava cheio de gente. Muitos rapazes batendo papo, uma ou outra dupla de amigas dando risada. Resolvemos sentar perto das únicas meninas que encontramos, tentando nos misturar na multidão. Não conseguimos. Antes de sentar na grama já apareceu um rapaz de pele bem escura oferecendo para lustrar nossos sapatos. Tênis de tecido, esses não dão pra limpar, falou. Sentamos. 2 segundos depois, chegou outro rapaz mais claro. Passado o papo introdutório padrão: which country? First time in Índia? How long in Délhi? Ele abriu um caderninho com um monte de páginas escritas e foi me mostrando. Esse é o meu trabalho... Li em vários bilhetinhos diferentes: o fulano - em pé a minha frente - é meu amigo e faz um excelente trabalho, com muito cuidado. Uma excelente pessoa... Não resisti: mas qual é o seu trabalho, perguntei. Sou limpador, limpador de orelhas!
Em seguida, ele tirou um montinho de fotos plastificadas do bolso. Clientes japoneses, um que podia ser canadense... Foi só eu pensar não tem nenhuma menina, que, por último, tinha a foto de uma turista loira sorridente enquanto sua orelha esquerda passava por uma geral.
Achei bem engraçado a situação, fazer a higiene pessoal é uma coisa meio íntima no meu país, pensei em dizer. Além disso, cresci ouvindo do meu pai que é otorrino os perigos de se machucar os ouvidos até com cotonetes. O que diria ele sobre o instrumento usado para dar uma geral por dentro das minhas orelhas?
Só agradeci, disse que não queria. Não deu tempo, porém, de escapar de uma olhadela minuciosa, mas, segundo ele, sem compromisso e rodeada por alguns curiosos. O pior foi ouvir no final, na última tentativa do limpador de orelhas de me convencer: It’s very dirty!

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