Nos dois primeiros capítulos do livro “The 18 Mahākriyās of Yogāsana” antes de
entrar propriamente no tema e explicar os diferentes Kriyās, Prashantji define āsana
no contexto dos Yoga Sūtras de Patañjali e explica āsana como fim e como meio.
A seguir, o resumo do 1º capítulo.
Capítulo 1: Significado de āsana com referência ao contexto no texto
Para esclarecer o significado de āsana com base nos Yoga Sūtras, a
primeira pergunta a ser feita é: onde estão as referências a Yogāsana no texto
de Patañjali?
Āsana é mencionado no esquema do Aṣṭāṅga Yog. É o 3º dos 8 membros do
Yog dai concluímos que seu objetivo não é meramente a saúde física e mental,
mas inclui os objetivos e propósitos finais do Yog.
A 1ª referência de Patañjali a āsana é feita no 28º aforismo do Capítulo
II (II-28). E Prashant Iyengar faz a pergunta: Por que Aṣṭāṅga Yog é mencionado
ali?
Para superar Aśuddhi ou tendências,
propensões, Kleśa Vāsanā e Karma Vāsanā. O esquema de Aṣṭāṅga Yog também é
explicado como os meios de obtenção de conhecimento supremo, realização,
discernimento e Sākṣat karaṇa (3.18 - "ato de tornar visível", "observação")* de Vivekakhyāti. E por que deve haver Vivekakhyāti?
Principalmente porque esta intelecção é o meio para Kaivalya (Hānopāya).
Esta Vivekakhyāti vai dar fim a conjunção do
observador e do observado, que é a causa de sofrimento/dor/tristeza (Heyahetu). Esse
sofrimento é classificado em II-15 como pariṇāma duḥkha, tāpa duḥkha, saṃskāra duḥkha e guṇavrttivirodha. São também chamados de evitáveis e sua causa é a
conjunção entre observador e observado causada por Avidyā.
A dissolução de Avidyā é alcançada na fase
culminante da intelecção chamada de Aviplava Vivekakhyāti e os meios de se
alcaçar Vivekakhyāti por Aśuddhi Kṣaya é Aṣṭāṅga Yog e āsana é um dos oito
membros.
Aqui aparece a questão se o 3º membro do Aṣṭāṅga
Yog, Āsana, trabalha para o bem material e mundano e para o senso de bem estar.
A resposta para isso é que, embora Anuṣṭhān (disciplina) do Yogāsana seja um
paradigma essencial, ainda assim o processo de aprendizado e obtenção de āsana
é muito recompensador e gera muitos frutos, inclusive subprodutos como saúde,
condicionamento e remédios para o bem viver.
Embora verdadeiras, essas atuações e
conseqüências dos āsanas são muito rudimentares e em planos mais altos são
desclassificados até mesmo de serem chamadas de yog ou de yogāsana.
A valiosa recompensa concedida por Yog é
tamanha que até mesmo a mais superficial aparência de āsana pode agraciar e
corrigir o propósito mundano da vida.
Pseudo āsana e pseudo yog definitivamente cumprem objetivos da vida
mundana e material.
Porém em seu livro, Prashantji não lida com
pseudo āsanas ou posturas, ele refere-se a Yogāsanas. Aqui o autor abre uma
nota dizendo que o termo Anuṣṭhān pode ser processado precisamente como atos
cerimoniosos, ritualísticos e religiosos; a intenção sendo a de mostrar que não
são atos de cultura física, mas sim inseridos no quadro e ethos do Dharma.
No Sādhana Pāda (Cap. II), Patañjali
menciona Caturvyūha que é similar ao conceito de 4 estágios da medicina
tradicional indiana: doença; causa da doença; o estado de ser livre da doença;
e finalmente, os meios para ser livre da doença.
Similarmente em Yog temos 4 estágios:
1) Sofrimento na perspectiva Paramārtha e não mundana.
2) Causa do sofrimento não mundano
3) Estado de liberação (Mukti/ Kaivalya)
4) Os meios da liberação
Esses 4 estágios são:
1) Heya: sofrimento evitável que é ainda por vir (anāgata
duḥkha).
2) Heyahetu: causa do sofrimento evitável que é a conjunção
entre vidente e visto (drśyādrśyasaṁyogah).
3) Hānam: estado de não sofrimento chamado de Kaivalya
(saṁyogābhāvah).
4) Hānopāyam: os meios para a liberação. Ininterrupto Vivekakhyāti
na fase culminante (vivekakhyāti saptadhārāntabhūmi).
Assim, a intelecção vem a tona por um
processo chamado de Sistema ético-religioso que é Aṣṭāṅga Yog. E o Yog de 8
membros é o meio para erradicação das impurezas na forma de Kleśa Vāsanā e
Karma Vāsanā (aśuddhikśaya), e obtenção de Vivekakhyāti (meios para a
liberação).
Todo o esquema do Aṣṭāṅga Yog, então, tem
como objetivos os mencionados acima. Todos os 8 membros nos provem desses
propósitos desde Yama e Niyama até Samādhi.
Padmāsana (imagem pesquisada na internet)
P.S. Gostaria de agradescer meu querido professor de sânscrito João Carlos B. Gonçalves pela correção dos termos em sânscrito e das sugestões de tradução.
*no original Sakshatkar de Vivekakhyāti
Como estudantes de Yog devemos entender que o propósito de yogāsana essencialmente é: “pavimentar o caminho, facilitar e equipar o
vindouro Vivekakhyāti, que é o meio para a liberação (Mukti, Nirvāṇa e
Kaivalya). Não é para o bem estar mundano ou mera saúde física e mental.”
Yogāsana deve essencialmente e substancialmente
trabalhar para: Aśuddhi (tendências) Kṣaya de citta e obtenção da sabedoria que
leva a Vivekakhyāti. Como já foi repetidamente falado não é para a saúde e bem
estar físicos, fisiologia saudável, nem para o bem estar e a saúde mental e
psicológica. Apesar desses efeitos mundanos surgirem através do processo de fazer,
aprender, obter e praticar āsana.
Prashantiji encerra o capítulo dizendo que
chegamos a alguns teoremas e um deles é:
“Āsanas não são para o corpo como são vistos e popularmente considerados
pela maioria dos praticantes. São, porém, pelo corpo para a mente, citta,
psique, consciência e lócus dos Vāsanās.”
P.S. Gostaria de agradescer meu querido professor de sânscrito João Carlos B. Gonçalves pela correção dos termos em sânscrito e das sugestões de tradução.
*no original Sakshatkar de Vivekakhyāti