A chuva das monções que chegou mais cedo esse ano em Pune, me convida a reflexão. Estou sozinha no apartamento, minha flatmate saiu pra comprar leite fresco. Dia sim, dia não preparamos iogurte caseiro. Delicioso! Também estou desenvolvendo minhas aptidões com os chapatis, que começam a sair mais redondinhos. Mas, isso fica pra um outro post. Nesta tarde chuvosa e fresca quero escrever sobre B.K.S. Iyengar e contentamento.
Sonhei com o Iyengar dia desses e foi um presente muito agradável. Ele estava me ensinando algumas posturas e me recomendava uma variação de Urdhva Mukha Svānāsana que nunca vi. Ele me perguntava o nome de uma postura e eu me sentia mal por não saber a resposta, me desculpava e pensava comigo que precisava estudar mais. Ele sorria, compassivo, e interrompia nossa conversa em inglês pra falar em marati com outros professores. No final, ele me presenteava com uma moto e eu dizia muito agradecida que buscaria no dia seguinte porque estava de carro e não tinha onde deixá-lo.
Foi durante uma das praticas pessoais da semana passada que senti uma enorme gratidão por B.K.S. Iyengar. Acho que foi ao passar por ele na sala, quando ele estava terminando sua pratica em Savāsana com apoio, que pude dar uma boa olhada pra ele. Sempre olho meio rapidamente procurando não me demorar muito. Fiquei uns bons instantes parada ali, ao lado das estantes onde os bolsters são guardados. Eu tinha uma boa visão dele, mas ninguém podia ver que eu estava ali encarando o Guruji, coisa que me deixaria envergonhada. Ele exalava serenidade, contentamento e um estado de profunda meditação.
O costume aqui é fazer reverência ao Guru, aquela completa onde agachamos até tocar os pés do mestre, como sinal de respeito e agradecimento. Confesso que fiquei meio sem jeito na primeira vez em 2009. De lá pra cá, vi muitos alunos aqui na Índia reverenciando seus mestres e me acostumei. Na semana passada, Iyengar sentou na plataforma pra invocação do mantra antes da “Remedial Class”. Os professores do Instituto foram até lá fazer a reverência se curvando a ele. Fiquei meio no vou ou não vou e decidi ir também. Cheguei bem pertinho, toquei seus pés com ambas as mãos enquanto ele dizia Namaskar. Encontrei um belo sorriso que me encheu de alegria quando direcionei meus olhos aos dele; e um olhar vibrante e profundo e ao mesmo tempo carinhoso. Pra alguns leitores minhas palavras podem soar meio piegas, mas simples encontros como este podem nos tocar profundamente. As experiências mais marcantes não são necessariamente hollywoodianas, com fogos de artifício e efeitos especiais. Elas estão em momentos como este em que sentimos uma enorme, indescritível e inexplicável, conexão com o todo. Meu coração se encheu de contentamento.
संतोषादनुत्तम: सुखलाभ: ।४२।
YS II.42 santoṣāt anuttamaḥ sukhalābhaḥ
Do contentamento e benevolência de consciência vem a suprema felicidade
Um comentário:
Wonderful write up, carry on the good work.
It is always nice to hear the outlook of Westerner.
Harish
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